ELVIO FILÓSOFO
Este blog é um instrumento pedagógico, usado para a interação com meus alunos. Aqui publico meus textos utilizados nas aulas e outros assuntos interessantes.
Adital - Notícias da América Latina e Caribe
Links de filosofia e sociologia
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
O sentido da vida em Pierre Teilhard de Chardin¹
Teilhard de Chardin constrói sua própria filosofia, nunca vai contra a visão cristã do Universo, ele procura encaixar seu modo de ver o mundo na Teologia católica. Além disso, consegue, de maneira simples e clara, conciliar Ciência, Filosofia e Teologia.
Na cosmologia de Teilhard de Chardin, o Universo evolutivo, parte do caos e vai se complexificando até formar novos seres. A lei de complexificação e interiorização tornam-se o elemento essencial para que ocorra a evolução. A matéria nunca é puramente matéria, nem espírito é puramente espírito. Em Chardin, tem-se o Espírito-Matéria, formando todo o “Estofo do Universo”. A matéria ao decorrer do percurso da evolução deve espiritualizar-se. Toda a evolução está em movimento contínuo, caminhamos para além de nós mesmos.
O Cristo Universal anima e mantém todo o Universo. Ele é o ponto de convergência da evolução, quando o atingirmos estaremos plenamente prontos. Não é um centro ideal, mas é Real, pode-se sentir sua presença, manifestadas em todos os seres do mundo. O fim acontecerá quando toda a humanidade tiver atingido qualitativamente elementos que o permitirão unir-se ainda mais. Com isso, ocorrerá o coroamento da Terra, convergindo ao Cristo Universal, que se tornará o Cristo Total.
Na História da Filosofia existiram várias concepções do homem, isso deu-se por conta dos sucessivos períodos históricos do mundo. No nosso período contemporâneo, os filósofos apreendem apenas uma dimensão do homem para formar seu conceito. A tarefa da Filosofia atual é conceber o ser humano como uma totalidade englobando todas as suas dimensões. Em Teilhard de Chardin, o ser humano, ocupa na evolução o lugar de honra. Dentre os animais, ele é o único privilegiado com a consciência reflexiva, por isso sua capacidade de refletir sobre si e sobre sua realidade.
O homem é o ápice e a flecha da evolução. Pela sua ação no mundo, conduz a evolução no caminho que deve andar. A ação humana se irradia a partir do Centro de Convergência, enviando energia para suas ações. Cada homem é um microcosmo, o corpo é a totalidade do Universo nele. O ser humano deve unir-se ao outro, para poder crescer em consciência e com isso aperfeiçoar-se. O homem continua evoluindo, não fisicamente, mas sua evolução agora é em consciência.
Na sociedade é que o homem desenvolve suas potencialidades, ele se manifesta nela. O homem não pode isolar-se e não consegue, deve unir-se, a saída para a humanidade dá-se pela união.
Teilhard de Chardin tem a percepção do homem, como o Fenômeno humano. Porque procura compreender o ser humano em sua totalidade, pois só assim ele poderá ser entendido. Afasta todo tipo de dualismo. O homem é o mais surpreendente dos seres, por isso somente pode ser visto como um conjunto, unido que não se pode separar ou analisar por apenas uma particularidade.
O Cristo Universal é o sentido de todo o Universo, presente em tudo. Temos que estar em comunhão com ele, para podermos progredir e nos consumar nele. A humanidade, como conjunto de todos os homens, também tem um sentido, que é crescer unindo-se, cresce em consciência pela união de seus membros, para avançar até o Ponto de Convergência.
O homem para realizar-se como pessoa, necessita de um sentido para sua existência. O universo dá-nos um sentido, mas é necessário que se encontre uma forma, para que se viva este sentido, seja em forma de ação, para a vida.
Considerando as idéias acima, conclui-se que o sentido da vida na cosmologia de Teilhard de Chardin, é que o homem, perceba e tome consciência que constitui um todo organizado, devendo ainda crescer, por isso é responsável pelo seu porvir. Desta forma, o sentido da vida é colaborar com o crescimento da humanidade, consequentemente do seu próprio crescimento, deve ser um colaborador da evolução. Cabe a cada ser humano, a partir da sua história e experiências, descobrir a melhor forma de colaborar com a evolução. Projetando uma ação que o realize plenamente, satisfazendo seu desejo de ser - mais.
Espero que a obra de Teilhard de Chardin continue a auxiliar, muitas pessoas que amam e tem fé na vida, a ver mais e melhor. Que cada ser consiga, ver que a vida tem sentido, vale a pena e é “bela mesma nas piores circunstâncias”.
1. Texto produzido por: Elvio Vilalba Valejo, Graduado em Filosofia pela UCDB, Professor de Filosofia da Rede estadual de Ensino do Paraná.
Bibliografia
CHARDIN, Pierre Teilhard de. Ciência e Cristo. Trad.: Efhrain Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1974.
. El porvenir del hombre. Trad. Esp.: Carmen Castro. Madri:Taurus, 1962.
. La aparición del hombre. Trad. Esp.: Carmen Castro. Madrid: Taurus, 1961.
. Mundo, homem e Deus. Textos de Teilhard de Chardin selecionados e comentados. Trad.: José Luiz Archanjo. São Paulo: Cultrix, 1980.
. O Fenômeno Humano. Trad.: José Luiz Archanjo. São Paulo: Cultrix, 2005.
. O Meio Divino. Ensaio de uma vida interior. Trad.: José Luiz Archanjo. São Paulo: Cultrix, 1981.
. Para Aquele que vem. Trad.: José Luiz Archanjo. São Paulo: Morumbi, 1985.
. Ser Más. Trad. Esp.: Francisco Perez Gutierrez. Madrid: Taurus, 1974.
A concepção do Homem na História da Filosofia¹
Em cada período da história, o homem é visto de maneira diferente, sempre tal concepção foi influenciada pelas condições históricas.
a) O Homem antigo
No mundo antigo, os gregos, ao iniciar a filosofia, procuram responder sobre o homem levando em conta ele dentro da polís em relação ao cosmos. O mundo grego era harmonioso e coerente, os primeiros pré-socráticos davam atenção ao cosmo, buscavam o ‘arque’, o homem apenas faz parte do cosmos. De acordo com Lima Vaz, (1998, p. 27), os gregos viam o homem a partir de dois traços essenciais: o homem da polís (político) e como animal que fala e discursa, apenas sendo dotado do logos ele pode relacionar-se com o outro e participar da comunidade política.
A primeira das visões é a do homem em relação com os deuses. No período mitológico, os deuses eram imortais e felizes. O homem é mortal e infeliz, nos mitos percebemos estas diferenças e a busca do homem por ser como os deuses, por isso o homem deve elevar-se, através do auto – conhecimento,somente assim pode conseguir tal proeza. A recomendação de Delfos “Conhece-te a ti mesmo” era um convite para o grego conhecer-se para elevar-se. Através da admiração, o homem grego pode conduzir sua vida ou filosofar, admirando-se a ordem do Universo, pode-se dar ordem à cidade, assim surge a ciência do agir (Ética).
A partir dos sofistas e de Sócrates, começa de fato a pensar o homem. Em Diógenes (século V a.C.), o homem é visto como superior aos animais, pode construir a si e ao mundo, e através da linguagem expressar seu pensamento. O corpo e o espírito se ajuntam e se manifestam na cultura pelas coisas que o homem faz. Em Sócrates (469-399 a.C.) tem-se o conceito de alma (psyche), inaugurado na filosofia. A alma em Sócrates não quer dizer principio animador (como se começou a pensar posteriormente), mas, “é a sede de uma areté (virtude ou excelência) que permite medir o homem segundo a dimensão interior na qual reside a verdadeira grandeza humana” (LIMA VAZ, 1998, p. 34). Com isso, em Sócrates, o homem é puramente interior. Pois do interior que se tiram as virtudes do bem viver, nisto ele acrescenta a educação (paidéia) como essencial para “moldar” o homem.
Platão (427-347 a.C) comunga da idéia de Sócrates, aparecendo nele o dualismo entre corpo e alma, distintos um do outro. O corpo é a prisão da alma que tem contato com o inteligível, ou o mundo das idéias, onde o homem ordena o ser.
Aristóteles (384-322 a.C) vê o homem composto de corpo e alma, como uma única realidade (matéria e forma), a alma vai além do corpo e está ligada ao divino. Aristóteles também vê o homem muito ligado a polís, por isso ele é um ser político e ético. Isto o leva a saber sobre si mesmo, mas também carregado de paixão e desejo, seu lado irracional o influenciando na práxis. Para os gregos, o homem tem valores excepcionais, como sábio, belo, forte, herói, etc. porém isso é válido apenas para os cidadãos da polís, excluindo os escravos e as mulheres.
b) O Homem na Patrística e na Escolástica
Neste período podem-se ressaltar dois nomes - não menosprezando os outros tão importantes quanto – presentes na concepção cristã do homem, que com certeza influenciaram Teilhard de Chardin: Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Um ponto que não podemos esquecer é que na Idade Média a visão do Universo é Teocêntrica , ponto determinante na concepção do homem na época.
Em Santo Agostinho (354-430), na criação terrestre o homem ocupa o lugar mais elevado, é uma unidade de corpo e alma (dualismo), sendo que a alma governa o corpo. Além de ser imortal e faz a ponte entre as idéias que vem de Deus e o corpo. O homem em Agostinho é inquieto, sempre busca algo, esta busca é Deus, que encontrará no seu interior, daí a importância da interioridade.
Em Santo Tomás de Aquino (1225-1274), o homem está na fronteira do corporal e do espiritual. É um animal racional, imagem e semelhança de Deus, a criação nele encerra, “a razão lhe permite penetrar no mundo dos espíritos, as energias sensitivas lhe são comuns com os animais, as forcas vitais com as plantas, e o corpo fá-lo aproximasse dos seres inanimados” (GILSON, 2003, p. 467). Além disso Tomás é contra o dualismo de Platão e Agostinho, pois o corpo e a alma estão unidos substancialmente, como pensava Aristóteles.
c) O Homem moderno
Na modernidade diferente da Antigüidade e da Idade média, não se tem uma única concepção ou idéia, mas tem-se várias concepções sobre o homem. Por conta do avanço da ciência e um novo pensar da humanidade, agora a visão antropocêntrica avança e o olhar passa a ser outro. Por isso se estudará apenas as concepções mais relevantes na História moderna.
Na Renascença nasce o Humanismo. É uma corrente de dois significados, o primeiro é a volta aos clássicos e a valorização da arte, o segundo é a redescoberta do homem, valorizando-o diante do Cosmos. Ocorrem transformações na estrutura européia tanto social e política como religiosa. Vários nomes destacam-se neste período. Entre eles, Nicolau de Cusa (1401-1461) sua filosofia destacava a dignidade do homem universal. O ser humano é um microcosmo, porque ‘constrói’ as coisas em si, tem conhecimento, por isso as coisas são imagem dele, ou seja, ele é um pequeno mundo.
Ainda há vários outros nomes importantes como Francisco Petrarca (1304-1374) o primeiro humanista, Gianozzo Manetti (1396-1459), Marcilio Ficino(1433-1499) e Giovanni Pico della Mirândola (1463-1499). Este último escreve o discurso sobre “A dignidade do homem”, pode-se notar a esplêndida importância dada ao homem, começa seu livro dizendo:
Tendo lido, respeitadíssimos senhores, nos livros antigos dos árabes, que Abdala, o Sarraceno, questionado a respeito de que coisa se lhe oferecia à vista como mais notável sobre o cenário deste mundo, respondeu nada haver de mais admirável que o próprio homem (PICO DE MIRÂNDOLA, 1999, p. 49).
Descartes (1596-1650) ao fundar a Filosofia moderna, racionaliza o olhar sobre o homem, para conhecê-lo é necessário o método (cartesiano). O homem cartesiano (e também racionalista) é composto da res extensa (corpo) e res cogito (espírito), novamente aparece o dualismo, a subjetividade está no espírito que é consciência de si, a exterioridade é o corpo que está em relação com o espírito. O corpo e a alma são realidades distintas que não têm nada em comum, apenas se ajuntam para formar o homem. Dois pontos fundamentais no homem de Descartes são a existência e a razão, que podem guiar o homem através do pensamento claro.
Dando um salto na História da Filosofia moderna, tem-se a frente Kant (1724-1804). De acordo com Lima Vaz (1998, p. 98-9), Kant designa o homem como: um ser natural no mundo, livre, racional que pode responder por si, sua lei moral o ajuda a agir moralmente. Na formulação do imperativo categórico, diz que as coisas têm valor e o homem tem dignidade, é o fim e nunca pode ser meio para as coisas ou atos. O homem é um ser cognoscente, capaz de “formar o ideal da Razão pura e Idéias transcendentais” e a Filosofia deve ser útil para a vida, preparando-o para conhecer o mundo. Deste modo, sua antropologia busca um caráter prático.
d) O Homem contemporâneo
Na Filosofia contemporânea, mais do que nunca percebemos uma diversidade de concepções sobre o homem. Umas negativas outras positivas, a característica dos filósofos contemporâneos é ver apenas um aspecto do homem.
Exemplo disso tem-se em Mondin (1980, p. 13), em seu livro “O Homem, quem é ele?” O autor resume em apenas uma palavra, o que os filósofos dizem sobre o homem: para Marx, o homem é um ser econômico; para Freud é ser instintivo; em Kierkegaard, ser angustiado; em Bloch, ser utópico; Heidegger o homem é ser existente, em Ricoeur é ser falível, em Gadamer ser hermenêutico, em Marcel, é um ser problemático, em Gehlen é ser cultural e em Luckmann é um ser religioso.
O desafio da antropologia agora é ver o homem na sua totalidade, o ser inteiro.
1. Texto produzido por: Elvio Vilalba Valejo, Graduado em Filosofia pela UCDB, Professor de Filosofia da Rede estadual de Ensino do Paraná.
Bibliografia:
JOÃO PAULO II. Fides et ratio. Carta encíclica sobre as relações entre fé e razão. São Paulo: Paulinas, 2004.
MARCONETTI, Luís. Primeiros elementos de Filosofia. Campo Grande: UCDB, 2003.
MIRÂNDOLA, Giovanni Pico della. A dignidade do homem. Trad.: Luiz Ferracini. Campo Grande: Sólivros; UNIDERP, 1999.
MONDIN, Battista. O homem, quem é ele? Elementos de antropologia filosófica. Trad.: R. Leal Ferreira e M. A. S. Ferrari. São Paulo: Paulus, 1980. (Col. Filosofia).
VAZ, Henrique Cláudio de Lima. Antropologia filosófica I. São Paulo: Loyola, 1998. (Col. Filosofia).
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Trad.: Álvaro Cunha. São Paulo: Paulus, 1991. Vol. I, II, III.
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Senso comum e Ciencia
O que é o Senso Comum? O que é a Ciencia? O que boa parte das pessoas entendem por ciencia? Questões como essas Rubens Alves de maneira bem simples tenta responder e apresenta mais alguns questionamentos. Vale a pena ler! Confira o link: Senso comum e ciencia.
quinta-feira, 26 de julho de 2012
O Mundo de Sofia
O mundo de Sofia de Jostein Gaarder, é um romance da história da Filosofia. Onde Sofia recebe aulas grátis de Filosofia de um filósofo misterioso, que posteriormente se revela a jovem. De maneira envolvente o autor faz uma viagem na história da filosofia ocidental, vale a pena ler e enriquecer-se de conhecimento. Confira o livro no link:
O Mundo de Sofia, Jostein Gaarder
Revolução dos bichos
Grande obra da literatura mundial George Orwell, faz a partir desta fábula uma crítica a URSS comunista.Conta a estória dos animais da Granja do solar,que revoltados com seu dono e cansados de tanta opressão resolvem fazer uma revolução liderada pelos ideais do porco Major,mas isso não dura muito tempo,os porcos experimentam e gostam do poder transformando a sociedade igualitária que criaram em uma nova ditadura.
Confiram o livro no link:
Livro: Revolução dos bichos, George Orwell
segunda-feira, 23 de maio de 2011
A pobreza da democracia brasileira
Leonardo Boff
Teólogo, filósofo e escritor
Adital
Tempos de campanha eleitoral oferecem ocasião para fazermos reflexões críticas sobre o tipo de democracia que predomina entre nós. É prova de democracia o fato de que mais de cem milhões tenham que ir às urnas para escolher seus candidatos. Mas isso ainda não diz nada acerca da qualidade de nossa democracia. Ela é de uma pobreza espantosa ou, numa linguagem mais suave, é uma “democracia de baixa intensidade” na expressão do sociólogo português Boaventura de Souza Santos. Por que é pobre? Valho-lhe das palavras de uma cabeça brilhante que, por sua vasta obra, mereceria ser mais ouvida, Pedro Demo, de Brasília. Em sua Introdução à sociologia (2002) diz enfaticamente:”Nossa democracia é encenação nacional de hipocrisia refinada, repleta de leis “bonitas”, mas feitas sempre, em última instância, pela elite dominante para que a ela sirva do começo até o fim. Político é gente que se caracteriza por ganhar bem, trabalhar pouco, fazer negociatas, empregar parentes e apaniquados, enriquecer-se às custas dos cofres públicos e entrar no mercado por cima…Se ligássemos democracia com justiça social, nossa democracia seria sua própria negação”(p.330.333).
Essa descrição não é caricata, salvo as poucas exceções. É o que se constata dia a dia e pode ser visto pela TV e lido nos jornais: escândalos da depredação do bem público com cifras que sobem aos milhões e milhões. A impunidade grassa porque crime é coisa de pobre; o assalto criminoso aos recursos públicos é esperteza e “privilégio” de quem chegou lá, à fonte do poder. Entende-se porque, em contexto capitalista como o nosso, a democracia primeiro atende os que estão na opulência ou têm capacidade de pressão e somente depois pensa na população atendida com políticas pobres. Os corruptos acabaram por corromper também muitos do povo. Bem observou Capistrano de Abreu em carta de l924:”Nenhum método de governo pode servir, tratando-se de povo tão visceralmente corrupto com o nosso”.
Na nossa democracia, o povo não se sente representado nos eleitos; depois de uns meses nem mais sabe em quem votou. Por isso não está habituado a acompanhá-lo e a fazer-lhe cobranças. Ao lado da pobreza material é condenado à pobreza política, mantida pelas elites. Pobreza política é o pobre não saber as razões de sua pobreza, é acreditar que os problemas dos pobres podem ser resolvidos sem os pobres, só pelo assistencialismo estatal ou pelo clientelismo populista. Com isso, se aborta o potencial mobilizador do povo organizado que pode exigir mudanças, temidas pela classe política, e reclamar políticas públicas que atendam a suas demandas e direitos.
Mas sejamos justos. Depois das ditaduras militares, surgiram em toda América Latina democracias de cunho social e popular que vieram de baixo e por isso fazem políticas para os de baixo, elevando seu nível. A macroeconomia capitalista segue mas tem que negociar. A rede de movimentos sociais, especialmente o MST, colocam o Estado sob pressão e sob controle, dando sinais de que a democracia pode melhorar.
Vejo dois pontos básicos a serem conquistados: primeiro, a proposta de Boaventura de Souza Santos que é de forjar uma “democracia sem fim”, em todos os campos, especialmente na economia, pois aqui se instalou a ditadura dos patrões. Ela é mais que delegatícia, é um movimento aberto de participação, a mais ampla possível.
O segundo, é uma idéia que defendo há anos: a democracia não pode ser antropocêntrica, só pensando nos humanos como se vivêssemos nas nuvens e sozinhos, sem nos darmos conta de que comemos, bebemos, respiramos e estamos mergulhados na natureza da qual dependemos. Então, importa articular os dois contratos, o social com o natural; incluir a natureza, as águas as florestas, os solos, os animais como novos cidadãos que têm direitos de existir conosco, especialmente os direitos da Mãe Terra. Trata-se então de uma democracia sócio-cósmica, na qual os seres humanos convivem com os demais seres, incluindo-os e não lhes fazendo mal. O PT do Acre nos mostrou que isso é possível ao articular cidadania com florestania, quer dizer, a floresta respeitada e incluída no bem viver dos povos da floresta.
Utopia? Sim, no seu melhor sentido, mostrando o rumo para onde devemos caminhar daqui para frente, dadas as mudanças ocorridas no planeta e no encontro inevitável dos povos.
[Autor de A nova era: a civilização planetária, 2003].
Disponível em http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=50729
Pensando o texto:
1.Teça um comentário sobre o artigo.
2.Por que a democracia brasileira é pobre? Comente a resposta de Pedro Demo.
3.O que é pobreza política?
4.Por que o autor diz que a democracia não pode ser antropocêntrica? Como ela deve ser?
Teólogo, filósofo e escritor
Adital
Tempos de campanha eleitoral oferecem ocasião para fazermos reflexões críticas sobre o tipo de democracia que predomina entre nós. É prova de democracia o fato de que mais de cem milhões tenham que ir às urnas para escolher seus candidatos. Mas isso ainda não diz nada acerca da qualidade de nossa democracia. Ela é de uma pobreza espantosa ou, numa linguagem mais suave, é uma “democracia de baixa intensidade” na expressão do sociólogo português Boaventura de Souza Santos. Por que é pobre? Valho-lhe das palavras de uma cabeça brilhante que, por sua vasta obra, mereceria ser mais ouvida, Pedro Demo, de Brasília. Em sua Introdução à sociologia (2002) diz enfaticamente:”Nossa democracia é encenação nacional de hipocrisia refinada, repleta de leis “bonitas”, mas feitas sempre, em última instância, pela elite dominante para que a ela sirva do começo até o fim. Político é gente que se caracteriza por ganhar bem, trabalhar pouco, fazer negociatas, empregar parentes e apaniquados, enriquecer-se às custas dos cofres públicos e entrar no mercado por cima…Se ligássemos democracia com justiça social, nossa democracia seria sua própria negação”(p.330.333).
Essa descrição não é caricata, salvo as poucas exceções. É o que se constata dia a dia e pode ser visto pela TV e lido nos jornais: escândalos da depredação do bem público com cifras que sobem aos milhões e milhões. A impunidade grassa porque crime é coisa de pobre; o assalto criminoso aos recursos públicos é esperteza e “privilégio” de quem chegou lá, à fonte do poder. Entende-se porque, em contexto capitalista como o nosso, a democracia primeiro atende os que estão na opulência ou têm capacidade de pressão e somente depois pensa na população atendida com políticas pobres. Os corruptos acabaram por corromper também muitos do povo. Bem observou Capistrano de Abreu em carta de l924:”Nenhum método de governo pode servir, tratando-se de povo tão visceralmente corrupto com o nosso”.
Na nossa democracia, o povo não se sente representado nos eleitos; depois de uns meses nem mais sabe em quem votou. Por isso não está habituado a acompanhá-lo e a fazer-lhe cobranças. Ao lado da pobreza material é condenado à pobreza política, mantida pelas elites. Pobreza política é o pobre não saber as razões de sua pobreza, é acreditar que os problemas dos pobres podem ser resolvidos sem os pobres, só pelo assistencialismo estatal ou pelo clientelismo populista. Com isso, se aborta o potencial mobilizador do povo organizado que pode exigir mudanças, temidas pela classe política, e reclamar políticas públicas que atendam a suas demandas e direitos.
Mas sejamos justos. Depois das ditaduras militares, surgiram em toda América Latina democracias de cunho social e popular que vieram de baixo e por isso fazem políticas para os de baixo, elevando seu nível. A macroeconomia capitalista segue mas tem que negociar. A rede de movimentos sociais, especialmente o MST, colocam o Estado sob pressão e sob controle, dando sinais de que a democracia pode melhorar.
Vejo dois pontos básicos a serem conquistados: primeiro, a proposta de Boaventura de Souza Santos que é de forjar uma “democracia sem fim”, em todos os campos, especialmente na economia, pois aqui se instalou a ditadura dos patrões. Ela é mais que delegatícia, é um movimento aberto de participação, a mais ampla possível.
O segundo, é uma idéia que defendo há anos: a democracia não pode ser antropocêntrica, só pensando nos humanos como se vivêssemos nas nuvens e sozinhos, sem nos darmos conta de que comemos, bebemos, respiramos e estamos mergulhados na natureza da qual dependemos. Então, importa articular os dois contratos, o social com o natural; incluir a natureza, as águas as florestas, os solos, os animais como novos cidadãos que têm direitos de existir conosco, especialmente os direitos da Mãe Terra. Trata-se então de uma democracia sócio-cósmica, na qual os seres humanos convivem com os demais seres, incluindo-os e não lhes fazendo mal. O PT do Acre nos mostrou que isso é possível ao articular cidadania com florestania, quer dizer, a floresta respeitada e incluída no bem viver dos povos da floresta.
Utopia? Sim, no seu melhor sentido, mostrando o rumo para onde devemos caminhar daqui para frente, dadas as mudanças ocorridas no planeta e no encontro inevitável dos povos.
[Autor de A nova era: a civilização planetária, 2003].
Disponível em http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=50729
Pensando o texto:
1.Teça um comentário sobre o artigo.
2.Por que a democracia brasileira é pobre? Comente a resposta de Pedro Demo.
3.O que é pobreza política?
4.Por que o autor diz que a democracia não pode ser antropocêntrica? Como ela deve ser?
sexta-feira, 20 de maio de 2011
Negócio fechado
Atividades sobre o filme.
1) Relate elementos da cultura material e não material mostrados no filme.
2) Qual a dificuldade dos compadres em fechar o negócio?
3) Qual a diferença no estilo de vida do dono do gado e o fazendeiro da caminhonete?
4) Por que o dono do gado não quis vender para o terceiro fazendeiro?
5) Como a cultura influenciou a maneira de negociar dos três fazendeiros?
6) Teça uma opinião sobre o filme.
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