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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A concepção do Homem na História da Filosofia¹

Em cada período da história, o homem é visto de maneira diferente, sempre tal concepção foi influenciada pelas condições históricas. a) O Homem antigo No mundo antigo, os gregos, ao iniciar a filosofia, procuram responder sobre o homem levando em conta ele dentro da polís em relação ao cosmos. O mundo grego era harmonioso e coerente, os primeiros pré-socráticos davam atenção ao cosmo, buscavam o ‘arque’, o homem apenas faz parte do cosmos. De acordo com Lima Vaz, (1998, p. 27), os gregos viam o homem a partir de dois traços essenciais: o homem da polís (político) e como animal que fala e discursa, apenas sendo dotado do logos ele pode relacionar-se com o outro e participar da comunidade política. A primeira das visões é a do homem em relação com os deuses. No período mitológico, os deuses eram imortais e felizes. O homem é mortal e infeliz, nos mitos percebemos estas diferenças e a busca do homem por ser como os deuses, por isso o homem deve elevar-se, através do auto – conhecimento,somente assim pode conseguir tal proeza. A recomendação de Delfos “Conhece-te a ti mesmo” era um convite para o grego conhecer-se para elevar-se. Através da admiração, o homem grego pode conduzir sua vida ou filosofar, admirando-se a ordem do Universo, pode-se dar ordem à cidade, assim surge a ciência do agir (Ética). A partir dos sofistas e de Sócrates, começa de fato a pensar o homem. Em Diógenes (século V a.C.), o homem é visto como superior aos animais, pode construir a si e ao mundo, e através da linguagem expressar seu pensamento. O corpo e o espírito se ajuntam e se manifestam na cultura pelas coisas que o homem faz. Em Sócrates (469-399 a.C.) tem-se o conceito de alma (psyche), inaugurado na filosofia. A alma em Sócrates não quer dizer principio animador (como se começou a pensar posteriormente), mas, “é a sede de uma areté (virtude ou excelência) que permite medir o homem segundo a dimensão interior na qual reside a verdadeira grandeza humana” (LIMA VAZ, 1998, p. 34). Com isso, em Sócrates, o homem é puramente interior. Pois do interior que se tiram as virtudes do bem viver, nisto ele acrescenta a educação (paidéia) como essencial para “moldar” o homem. Platão (427-347 a.C) comunga da idéia de Sócrates, aparecendo nele o dualismo entre corpo e alma, distintos um do outro. O corpo é a prisão da alma que tem contato com o inteligível, ou o mundo das idéias, onde o homem ordena o ser. Aristóteles (384-322 a.C) vê o homem composto de corpo e alma, como uma única realidade (matéria e forma), a alma vai além do corpo e está ligada ao divino. Aristóteles também vê o homem muito ligado a polís, por isso ele é um ser político e ético. Isto o leva a saber sobre si mesmo, mas também carregado de paixão e desejo, seu lado irracional o influenciando na práxis. Para os gregos, o homem tem valores excepcionais, como sábio, belo, forte, herói, etc. porém isso é válido apenas para os cidadãos da polís, excluindo os escravos e as mulheres. b) O Homem na Patrística e na Escolástica Neste período podem-se ressaltar dois nomes - não menosprezando os outros tão importantes quanto – presentes na concepção cristã do homem, que com certeza influenciaram Teilhard de Chardin: Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Um ponto que não podemos esquecer é que na Idade Média a visão do Universo é Teocêntrica , ponto determinante na concepção do homem na época. Em Santo Agostinho (354-430), na criação terrestre o homem ocupa o lugar mais elevado, é uma unidade de corpo e alma (dualismo), sendo que a alma governa o corpo. Além de ser imortal e faz a ponte entre as idéias que vem de Deus e o corpo. O homem em Agostinho é inquieto, sempre busca algo, esta busca é Deus, que encontrará no seu interior, daí a importância da interioridade. Em Santo Tomás de Aquino (1225-1274), o homem está na fronteira do corporal e do espiritual. É um animal racional, imagem e semelhança de Deus, a criação nele encerra, “a razão lhe permite penetrar no mundo dos espíritos, as energias sensitivas lhe são comuns com os animais, as forcas vitais com as plantas, e o corpo fá-lo aproximasse dos seres inanimados” (GILSON, 2003, p. 467). Além disso Tomás é contra o dualismo de Platão e Agostinho, pois o corpo e a alma estão unidos substancialmente, como pensava Aristóteles. c) O Homem moderno Na modernidade diferente da Antigüidade e da Idade média, não se tem uma única concepção ou idéia, mas tem-se várias concepções sobre o homem. Por conta do avanço da ciência e um novo pensar da humanidade, agora a visão antropocêntrica avança e o olhar passa a ser outro. Por isso se estudará apenas as concepções mais relevantes na História moderna. Na Renascença nasce o Humanismo. É uma corrente de dois significados, o primeiro é a volta aos clássicos e a valorização da arte, o segundo é a redescoberta do homem, valorizando-o diante do Cosmos. Ocorrem transformações na estrutura européia tanto social e política como religiosa. Vários nomes destacam-se neste período. Entre eles, Nicolau de Cusa (1401-1461) sua filosofia destacava a dignidade do homem universal. O ser humano é um microcosmo, porque ‘constrói’ as coisas em si, tem conhecimento, por isso as coisas são imagem dele, ou seja, ele é um pequeno mundo. Ainda há vários outros nomes importantes como Francisco Petrarca (1304-1374) o primeiro humanista, Gianozzo Manetti (1396-1459), Marcilio Ficino(1433-1499) e Giovanni Pico della Mirândola (1463-1499). Este último escreve o discurso sobre “A dignidade do homem”, pode-se notar a esplêndida importância dada ao homem, começa seu livro dizendo: Tendo lido, respeitadíssimos senhores, nos livros antigos dos árabes, que Abdala, o Sarraceno, questionado a respeito de que coisa se lhe oferecia à vista como mais notável sobre o cenário deste mundo, respondeu nada haver de mais admirável que o próprio homem (PICO DE MIRÂNDOLA, 1999, p. 49). Descartes (1596-1650) ao fundar a Filosofia moderna, racionaliza o olhar sobre o homem, para conhecê-lo é necessário o método (cartesiano). O homem cartesiano (e também racionalista) é composto da res extensa (corpo) e res cogito (espírito), novamente aparece o dualismo, a subjetividade está no espírito que é consciência de si, a exterioridade é o corpo que está em relação com o espírito. O corpo e a alma são realidades distintas que não têm nada em comum, apenas se ajuntam para formar o homem. Dois pontos fundamentais no homem de Descartes são a existência e a razão, que podem guiar o homem através do pensamento claro. Dando um salto na História da Filosofia moderna, tem-se a frente Kant (1724-1804). De acordo com Lima Vaz (1998, p. 98-9), Kant designa o homem como: um ser natural no mundo, livre, racional que pode responder por si, sua lei moral o ajuda a agir moralmente. Na formulação do imperativo categórico, diz que as coisas têm valor e o homem tem dignidade, é o fim e nunca pode ser meio para as coisas ou atos. O homem é um ser cognoscente, capaz de “formar o ideal da Razão pura e Idéias transcendentais” e a Filosofia deve ser útil para a vida, preparando-o para conhecer o mundo. Deste modo, sua antropologia busca um caráter prático. d) O Homem contemporâneo Na Filosofia contemporânea, mais do que nunca percebemos uma diversidade de concepções sobre o homem. Umas negativas outras positivas, a característica dos filósofos contemporâneos é ver apenas um aspecto do homem. Exemplo disso tem-se em Mondin (1980, p. 13), em seu livro “O Homem, quem é ele?” O autor resume em apenas uma palavra, o que os filósofos dizem sobre o homem: para Marx, o homem é um ser econômico; para Freud é ser instintivo; em Kierkegaard, ser angustiado; em Bloch, ser utópico; Heidegger o homem é ser existente, em Ricoeur é ser falível, em Gadamer ser hermenêutico, em Marcel, é um ser problemático, em Gehlen é ser cultural e em Luckmann é um ser religioso. O desafio da antropologia agora é ver o homem na sua totalidade, o ser inteiro. 1. Texto produzido por: Elvio Vilalba Valejo, Graduado em Filosofia pela UCDB, Professor de Filosofia da Rede estadual de Ensino do Paraná. Bibliografia: JOÃO PAULO II. Fides et ratio. Carta encíclica sobre as relações entre fé e razão. São Paulo: Paulinas, 2004. MARCONETTI, Luís. Primeiros elementos de Filosofia. Campo Grande: UCDB, 2003. MIRÂNDOLA, Giovanni Pico della. A dignidade do homem. Trad.: Luiz Ferracini. Campo Grande: Sólivros; UNIDERP, 1999. MONDIN, Battista. O homem, quem é ele? Elementos de antropologia filosófica. Trad.: R. Leal Ferreira e M. A. S. Ferrari. São Paulo: Paulus, 1980. (Col. Filosofia). VAZ, Henrique Cláudio de Lima. Antropologia filosófica I. São Paulo: Loyola, 1998. (Col. Filosofia). REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Trad.: Álvaro Cunha. São Paulo: Paulus, 1991. Vol. I, II, III.

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